ATA DA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 09-03-2004.

 


Aos nove dias do mês março de dois mil e quatro, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte e seis minutos, constatada a existência de quórum, a Senhora Presidenta declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o Dia Internacional da Mulher, nos termos do Requerimento nº 006/03 (Processo nº 093/03), de autoria da Mesa Diretora. Compuseram a MESA: a Vereadora Margarete Moraes, Presidenta da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Guilherme Barbosa, Secretário Municipal de Obras e Viação, representando o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; a Deputada Estadual Jussara Cony, representando a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; o Desembargador Marco Aurélio dos Santos Caminha, representando o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Ângela Salton Rotunno, representando o Procurador-Geral de Justiça; a 1ª Tenente Lúcia Aparecida de Oliveira, representando o V Comando Aérea Regional - COMAR; a Major Silvana, representando o Comando-Geral da Brigada Militar; a Senhora Beloni Turcatto, representando a Coordenadoria Estadual da Mulher; a Delegada Sílvia Cocaro de Souza, representando a Polícia Civil; o Vereador Ervino Besson, 2° Secretário deste Legislativo. A seguir, a Senhora Presidenta convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Maria Celeste, em nome da Bancada do PT, historiou a origem do Dia Internacional da Mulher, relembrando a morte de operárias norte-americanas em luta por condições dignas de trabalho e declarando que homens e mulheres devem estar unidos no desenvolvimento de uma sociedade mais igualitária. O Vereador Pedro Américo Leal, em nome da Bancada do PP, afirmou que a capacidade de doação é um dos principais traços que definem a personalidade feminina, exaltando a força espiritual e a presença incansável das mulheres no amparo ao homem e na construção da vida familiar. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, comentando o significado da participação feminina na sociedade gaúcha, centrou sua homenagem nas Vereadoras e ex-Vereadoras deste Legislativo, citando, entre outros, o nome da ex-Vereadora Dercy Furtado como uma referência na sua vida parlamentar. O Vereador Sebastião Melo, em nome da Bancada do PMDB, enalteceu o simbolismo desta Sessão, como demonstração da presença do Legislativo de Porto Alegre nos movimentos de defesa dos direitos da mulher e de busca de uma sociedade mais justa, mais solidária e mais humana. Após, a Senhora Presidenta registrou as presenças do Senhor Vítor Ortiz, Secretário Municipal da Cultura; da Senhora Sônia Santos, representando a Secretaria Estadual do Trabalho, Cidadania e Assistência Social; da Senhora Vera Pacheco, representando a Secretaria Estadual da Educação; da Tenente Sinzato e da Sargento Renata, representando a Base Aérea de Canoas. Em prosseguimento, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. A Vereadora Clênia Maranhão, em nome da Bancada do PPS, discorreu sobre a desigualdade de gênero observada na sociedade atual, destacando a importância do Dia Internacional da Mulher, como data de conscientização sobre a violência física e mental à qual estão expostas as mulheres no seu cotidiano. O Vereador Carlos Alberto Garcia, em nome da Bancada do PSB, saudou as mulheres, tecendo considerações sobre o Projeto de Resolução n° 015/03, de sua autoria, que institui o Prêmio Mulher em Ação. Ainda, prestou homenagem especial às mulheres que integram a família de Sua Excelência. O Vereador Raul Carrion, em nome da Bancada do PCdoB, analisou a trajetória das mulheres na construção de sua identidade e de sua integração política, econômica e social, salientando a participação marcante e decisiva da comunidade feminina nos principais movimentos libertários do País. O Vereador Ervino Besson, em nome da Bancada do PDT, externou a opinião de que a sociedade tem se transformado positivamente em decorrência da luta feminina, apesar da discriminação e da dupla jornada de trabalho que a maioria das mulheres ainda hoje enfrenta na sociedade atual. Em continuidade, o Vereador Ervino Besson assumiu a presidência dos trabalhos e concedeu a palavra à Vereadora Margarete Moraes, que lembrou exemplos de participação das mulheres nas lutas por condições dignas de vida e de trabalho, declarando que o dia oito de março merece comemoração pelo histórico de vitórias já alcançadas, mas também exige reflexão frente às injustiças e aos preconceitos que persistem no mundo contemporâneo. Em continuidade, a Vereadora Margarete Moraes, reassumindo a presidência dos trabalhos, convidou a todos para apresentação musical a ser realizada após a presente Sessão, com a presença das cantoras Lúcia Helena, Loma e Sio e do músico Nio, e nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e quarenta e um minutos, convidando os presentes para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pela Vereadora Margarete Moraes e pelo Vereador Ervino Besson e secretariados pelo Vereador Ervino Besson. Do que eu, Ervino Besson, 2º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Senhor 1º Secretário e pela Senhora Presidenta.

 

 


A SRA. PRESIDENTA (Margarete Moraes): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Dia Internacional da Mulher, uma proposta da Mesa Diretora desta Câmara Municipal de Vereadores. Compõem a Mesa a Dep.ª Jussara Cony, representante da Assembléia Legislativa; o Desembargador Marco Aurélio dos Santos Caminha, representante do Tribunal de Justiça; o Sr. Guilherme Barbosa, Secretário Municipal de Obras e Viação e representante do Prefeito Municipal; a Drª Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado; a Drª Ângela Salton Rotunno, representante do Procurador-Geral de Justiça; a 1ª Tenente Lúcia Aparecida de Oliveira, representante do 5º COMAR; a Major Silvana, representante do Comando-Geral da Brigada Militar; a Srª Beloni Turcatto, Coordenadora da Coordenadoria Estadual da Mulher; a Srª Sílvia Cocaro de Souza, Delegada da Mulher, representante da Polícia Civil.

 

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

A Verª Maria Celeste está com a palavra e falará em nome do Partido dos Trabalhadores.

 

A SRA. MARIA CELESTE: Boa-tarde a todos e a todas. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Estou muito feliz hoje por haver esta Sessão Especial na Câmara Municipal que demarca o 08 de março, não só o dia, mas o mês de março, como um mês de luta, de vida e de grandeza para todas as mulheres na Cidade de Porto Alegre. O 08 de março, que comemoramos ontem, não é apenas um dia, mas é um dia especial comemorado no mundo todo, porque, há exatos 147 anos, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, 129 mulheres, trabalhadoras de uma fábrica de tecidos, morreram queimadas por uma ação da polícia que visava a conter a manifestação dessas mulheres que lutavam pela dignidade do seu trabalho. E elas lutavam por algo tão simples, por uma redução na jornada de trabalho. Em vez de trabalhar 14 horas, elas queriam trabalhar 10 horas. Uma reivindicação tão justa, tão necessária para aquelas mulheres que não foram ouvidas, como muitas reivindicações, questões que nós, mulheres, colocamos cotidianamente e ainda hoje, nos nossos dias, não somos ouvidas. De lá para cá, muitos avanços, muitas conquistas houve; no entanto, a realidade que se apresenta tem um profundo abismo que separa a conquista dos direitos. Por essa razão, essa data não deixou de ser um marco referencial para todas nós, mulheres, porque nós precisamos constantemente apresentar ao mundo, gritar, dizer, lutar, contra as constantes injustiças e violações que nos afrontam.

Em que pese a violência contra a mulher ter origem em fatores psicológicos, jurídicos e econômicos, é o fator cultural o que mais reproduz e legitima essa prática. É inegável que as mulheres têm ocupado cada vez mais espaços, mas vejam o exemplo desta Casa: 230 anos de Câmara Municipal, e apenas este ano, no ano demarcado pelo nosso Governo como o Ano Nacional das Mulheres, nós tivemos a honra de ter na Presidência desta Câmara Municipal uma mulher; 230 anos para isso. Vejam, senhoras e senhores, o quanto nós temos que gritar, lutar, bradar pelos nossos direitos, pelo direito de ter o direito de estar aqui, por exemplo, hoje nesta tribuna fazendo esta homenagem às mulheres da Cidade de Porto Alegre. Vejam o quanto ainda nós precisamos lutar como mulheres, cada uma no seu tempo, cada uma no seu espaço, mas a necessidade urge, o tempo é muito rápido.

E nós temos várias bandeiras, uma delas é a questão da violência contra a mulher. No País, ainda há um dado assustador: a cada 15 segundos - 15 segundos! -, uma mulher é maltratada, é violentada! Nós precisamos ter consciência desses números, desses dados e, mais do que isso, nós precisamos fazer com que esse 08 de março, o mês de março, principalmente, seja um dia, um mês de reflexão, de debate, de denúncia e de acolhimento, principalmente às nossas mulheres que sofrem esse tipo de violência.

Sei que o tempo já terminou, mas, para finalizar, eu quero apenas deixar uma mensagem que eu acho extremamente importante para todos nós, homens e mulheres. Mulheres que têm de ousar, que têm de buscar, reivindicar, lutar cada dia mais pelo seu espaço; e homens, parceiros nessa luta, porque (Lê.): “Prestem muita atenção, pois cada um traz consigo um novo sonho, ou o sonho de muitos que acreditam que só elas podem conquistar. Chegaram como mães com amor, como filhas para aprender, como companheiras para dividir, como lideranças para ensinar, absolutamente mulher, que vem conquistar, desbravando, lutando, rompendo espaços, mostrando uma nova maneira de fazer, inclusive, a política. Em cada uma podemos encontrar os anseios de transformação própria ou de uma sociedade inteira, pois são assim mesmo, carregam anseios de gerações. E nós sonhamos juntos, acreditamos e estamos em busca de um novo ideal. São estrelas, estão no infinito, e como brilham. No universo, são pequenas luzes que muitas vezes iluminam os caminhos, nossos caminhos, nossos sonhos. Estão longe?! Não, estão perto. Estão ao nosso lado, estão nas nossas casas, nas nossas ruas, nas nossas vilas da nossa Cidade, dentro de cada uma de nós. Pintaram de várias cores um antigo universo que tinha tons cinza. São assim, aliás, somos assim como elas, que estão inovando na história de fazer política, e a cada uma pedimos que leve para sua luta os nossos sonhos, as nossas bandeiras, as nossas reivindicações. A todas nós, mulheres, guerreiras, queremos desejar vitória, força, coragem, sucesso, pois somos assim um pedacinho deste céu que cada uma de nós está todos os dias conquistando nas nossas vidas.” Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Margarete Moraes): O Sr. Pedro Américo Leal está com a palavra e falará em nome do PP.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Excelentíssima Srª Presidenta da Câmara Municipal, Margarete Moraes, e demais autoridades presentes, público, falo em nome dos meus colegas do PP, João Dib, Carlos Nedel e Beto Moesch. Infelizmente começamos com quarenta minutos de atraso. Isso não deve se repetir mais nesta Câmara, falarei em cinco minutos o que tenho a dizer.

Uma figura ilumina o mundo pela beleza espiritual, pela transigência nos procedimentos, pelo silêncio nas horas amargas, oriundas do trabalho humilde, mas necessário; independente de sofrimento e de frustrações. Bela na mocidade. Há inúmeras formas de beleza. No viço da juventude, possui a temperança de vir ao mundo semeando contemporização, desprendimento. Um traço a define: a doação. A mulher doa sempre. Claro que falo da mulher. Ao homem se atribui a fortaleza, a imagem dos músculos advindo do trabalho físico, das competições, das posições de mundo que o tornam o comandante nos momentos decisivos. Mas este gigante vai repousar lá ao lado da mulher, nas dificuldades e nos desastres, difíceis momentos da família, nos insucessos dos combates, obtendo o descanso, cuidando das feridas do corpo e da alma, que encanta a vida e que faz com que ela venha e possa ser vivida. Como dizia Nélson Rodrigues: “A vida como ela é”. Na “pista de combates”, das servidões, o homem cansado se dobra e vai às lágrimas; e, na volta ao lar, encontra na sua companheira a abnegação, o consolo, a coragem e a compreensão. Ela é a verdadeira “aguadeira de combate”. Quem não se lembra das aguadeiras de combate? Os tempos se foram, mas as “aguadeiras de combate” estão na nossa memória. Lá reside o propalado descanso do guerreiro, é lá no lar que vai descansar! Másculo, o homem das refregas vencidas e perdidas, no embate ou na derrota, vai buscar alento no carinho do lar.

Nas noites frias, vai encontrar o aconchego nas refeições quentes do silêncio do lar, onde aguarda sua companheira! Magra, mas está lá! Sem folga, via de regra, atendendo ao terceiro expediente, cuida dos afazeres, das crianças e do marido. Mulheres como a minha, com folha de serviço marcada por 72 meses de gestação! Somam rápido, ou seja, 8 anos de gravidez! Só uma mulher... Sacrificando comodidades, trabalhando na rotina da casa, suando nos afazeres domésticos, calada, sofrida, vai em frente, sempre com os olhos, às vezes, úmidos pelos filhos!

No Brasil, 32 bilhões de lares são conduzidos única e exclusivamente por mulheres - estatísticas de há pouco tempo que consultamos!

A elas a nossa admiração, nosso desvelo, o reconhecimento! Exalto-as com um soneto de minha autoria, simples, breve, dirigido a todas as mulheres, mães solteiras, casadas, no seu sublime desempenho de criar, de sofrer noite e dia, dia e noite, pelo que está para acontecer. Parece que adivinha!

Soneto em Homenagem à Mulher:

“Ser mãe é o seu grande papel!/ Ser mãe não é só conceber./ Ser mãe não é só educar,/ Ser mãe não é só morrer para que os filhos possam se criar./ Toda mulher que afagar com amor a cabeça de uma criança foi ou é mãe”. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Margarete Moraes): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e falará pelo PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Srª Presidente, Sras Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Se eu não tivesse uma motivação para, em nome do Partido da Frente Liberal, me manifestar nesta Sessão Solene em homenagem à mulher, eu haveria de tê-la conseguido tão-somente com a enumeração das autoridades aqui presentes, quando nós vemos que a mulher gaúcha está presente em todos os segmentos da sociedade gaúcha e que poderia, também, estar representando o Tribunal de Justiça do Estado, já que não faltam, da Suprema Corte do Rio Grande do Sul, Desembargadoras ilustres que demonstram a qualidade da atuação da mulher gaúcha nos seus mais diversos ramos de atividade.

Certamente que homenagear a mulher é quase uma convocação para a repetição, porque dificilmente alguém possa ter inspiração de ter a capacidade de produzir um pronunciamento em que seja enaltecida alguma característica da mulher que já não tenha sido cantada em prosa e verso. Ainda há pouco, na última Sessão do Rotary Club Partenon que eu integro, concluímos com a leitura de uma poesia da Marta Medeiros que fala da “mulherona”, que tem a competência de situar os vários momentos, as várias circunstâncias pelo qual a mulher se afirma na sua integralidade. Pessoalmente, eu tenho um respeito muito grande pela mulher, e repetiria aquilo que todos já dizem, o apreço pela mãe, pela companheira permanente, pela filha que é fruto da minha afirmação como ser, mas não titubearia, até mesmo correndo o risco da mesmice, de dizer que escolhi no dia de hoje, Verª Margarete Moraes, um tipo de mulher para centrar a minha homenagem.

Eu quero, egoisticamente, na minha homenagem, com o maior respeito a esta platéia maravilhosa que nos prestigia com a presença, homenagear as minhas companheiras de trabalho, as Vereadoras que integram este Legislativo. Porque eu acho, na minha visão pessoal, que a vida pública é uma tarefa muito difícil; é duro para nós homens, mas é muito mais duro para as mulheres. E quis a vida que eu sempre estivesse nesta Casa acompanhado de mulheres de grande qualidade pessoal, com as quais ombreei as minhas tarefas como Vereador.

Quando aqui cheguei pela primeira vez, em 1972, me acompanhava a Verª Dercy Furtado, mais tarde Deputada, que era a primeira Vereadora eleita de forma efetiva na história deste Legislativo. Tive na Verª Dercy Furtado uma excelente referência. Quando, quatro anos depois, em 1976, retornei para esta Casa, vim acompanhado, na minha Bancada, de uma pessoa fenomenal, que foi a Verª Bernadete Vidal, cuja ausência, no momento, eu até estranho. Ela e, pouco tempo depois, a Verª Jussara Gauto eram a representação feminina na Câmara Municipal, nos idos de 76. Fiquei um tempo fora, voltei à atividade parlamentar, em 1995, e por aqui a Gladis Mantelli já tinha passado; a Deputada Jussara Cony já tinha afirmado toda a sua capacidade de trabalho; e encontrei, Sônia, várias pessoas ao longo desse tempo, como a Maria do Rosário, hoje Deputada Federal, a Verª Clênia, que ainda continua conosco, a saudosa Tereza Franco, a Sônia Santos, a Helena Bonumá e a Maristela Maffei, até chegar nesta Legislatura, que eu acho que é uma Legislatura predestinada, na medida em que nunca tantas mulheres, Verª Clênia, foram eleitas por este Legislativo; junto com Vossa Excelência, foram eleitas no ano de 2000: as Vereadoras Maria Celeste, Maristela Maffei, Clênia Maranhão, Helena Bonumá, Sofia Cavedon e Vossa Excelência, Vereadora-Presidente, cuja presença, no comando deste Legislativo, é a confirmação plena e definitiva da importância da mulher no Legislativo de Porto Alegre.

Então, com respeito a todas as mães, as irmãs, as filhas, as companheiras, as parceiras, as solidárias, o PFL centra a sua homenagem no dia de hoje às nossas companheiras de trabalho que, nos matizes diferentes das nossas diferenças ideológicas, reforço, no trabalho do dia-a-dia, a importância da mulher gaúcha, brasileira, porto-alegrense. A vocês, com todo respeito, com todo o meu carinho, as nossas homenagens. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Margarete Moraes): O Ver. Sebastião Melo está com a palavra e falará em nome do PMDB.

 

O SR. SEBASTIÃO MELO: Srª Presidenta, insigne Verª Margarete Moraes, a minha saudação de forma coletiva a todas as autoridades, às mulheres que compõem esta Mesa, e, de forma muito afetiva, às minhas colegas Vereadoras; permitam-me saudar a todas as companheiras mulheres no nome da minha esposa, Valéria, que me acompanha aqui no plenário, e dizer que o dia das mulheres e o dia dos homens são todos os dias. O dia 08 de março, na verdade, quer gizar uma luta, uma caminhada de buscas e conquistas, que especialmente no século XX avançaram muito, mas temos muito o que avançar ainda. Olho para trás e vejo que logo ali, não tão longe, as mulheres não tinham direito ao voto, e isso foi uma conquista, Deputada Jussara Cony; eu olho para o Congresso Nacional onde nem sequer 10% ocupam os cargos da senadoria e da deputação federal; eu olho para os parlamentos e vejo isso; eu olho para os empregos públicos e também vejo esse cenário, vejo essa realidade, e com isso quero dizer, evidentemente, Beloni, que é uma caminhada. Tu, que diriges a Coordenadoria Estadual da Mulher junto com a tua equipe, sabes - e me dizias ainda hoje -, especialmente da violência doméstica que aporta naquela casa diariamente; essa é uma realidade do campo e da cidade; isso é uma dura e uma triste realidade que nós presenciamos. Portanto, eu diria que esta Sessão Solene é muito sublime e muito especial, e estamos, com isso, dizendo que a Câmara de Vereadores, que tem sido, ao longo de sua caminhada, solidária com a luta da humanidade, não poderia de jeito nenhum deixar passar em branco a sinalização do Dia Internacional da Mulher. Nesta tribuna, ontem, vários Vereadores - a Clênia e tantos outros Vereadores e Vereadoras que tinham espaço aqui - desfilaram para demonstrar a importância desta Sessão. Nós queríamos dizer, em nome de nossa Bancada, em meu nome e em nome do Ver. Haroldo de Souza, que somos parceiros nessa luta. Eu podia aqui resgatar tantas figuras; se olhasse para o campo do comportamento, para uma Olga Benário, que tantas contribuições deu para a história brasileira; se olhar para o campo da política, eu podia olhar para Carlota Pereira; se olhar para o campo das artes, para a Malfatti; eu poderia resgatar tantas mulheres de lutas brasileiras ou internacionais, mas eu queria dizer, acima de tudo, como dizia a escritora Rose Muraro, na década de 60, num dos livros que ela escreveu, o seguinte, num dos seus trechos (Lê.): “Educar um homem era educar um indivíduo, ao passo que educar uma mulher era educar a sociedade”, porque a mulher, com o seu jeito, com a sua maneira, ela educa a sociedade.

Portanto, o nosso abraço muito afetivo, muito carinhoso, nessa boa e extraordinária caminhada na qual nós temos muito o que avançar. O nosso País tem, realmente, grandes desafios; o mundo tem grandes desafios. Eu podia olhar para tantos lados, mas eu vejo, especialmente nos países muçulmanos, como as nossas companheiras são tratadas, tristemente, lamentavelmente, pelos companheiros.

Então, minhas queridas amigas, em nome da Bancada do PMDB, o nosso abraço muito afetivo. A luta e a caminhada continuam, porque, enquanto houver injustiça neste País e no mundo, essa caminhada não há de parar, e homens e mulheres, irmanados, haverão de caminhar na busca de uma sociedade mais justa, mais solidária, mais humana e mais fraterna. Muito obrigado, Presidente. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Margarete Moraes): Nós queremos registrar a presença das seguintes autoridades: da representante do Secretário do Trabalho, Cidadania e Assistência Social, a Srª Sônia Santos, ex-Vereadora; do Secretário Municipal de Cultura, Sr. Vitor Ortiz; da representante do Secretário Estadual de Educação, Srª Vera Pacheco; dos representantes da Base Aérea de Canoas, Tenente Sinzato e Sargento Renata; e, também, do Ver. Renato Guimarães.

A Verª Clênia Maranhão está com a palavra e falará em nome do PPS.

 

A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Srª Presidenta, Sras Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Registramos a nossa alegria por, mais uma vez, subirmos a esta tribuna da Câmara Municipal de Porto Alegre para falar na Sessão em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

Durante todos esses anos, nós temos acompanhado, no mês de março, uma polêmica que tenta se estabelecer na sociedade - que este ano se repetiu - e que tenta contrapor a decisão das mulheres na criação do nosso dia, o Dia Internacional da Mulher. Muitos dizem: “Todos os dias são os dias das mulheres”. Eu acho que todos os dias são os dias dos homens; se fosse diferente, não precisaria de um dia da mulher. Mas é preciso, talvez, argumentar um pouco sobre o porquê de nós, as mulheres do mundo inteiro, nos irmanarmos nessa corrente invisível, sairmos de nossas casas e participarmos ou no nosso sindicato, na nossa comunidade, no nosso Parlamento, nas nossas ONGs, na nossa escola, na nossa fábrica, nos nossos escritórios, reafirmando o Dia Internacional da Mulher, que é um dia de luta, de resgate de história, de reafirmação da singularidade feminina. Então, eu queria, rapidamente, colocar seis itens que eu acho que são motivos pelos quais nós, as mulheres, temos comemorado e seguiremos comemorando o Dia Internacional da Mulher. Porque, mesmo estando vivendo o século XXI, ainda é preciso incorporar as mulheres no fruto do desenvolvimento. Vivemos uma realidade de avanço tecnológico, da biotecnologia, da ciência, da informática; vivemos a sociedade da informação, da globalização. Porém, a grande parcela da humanidade é excluída dos benefícios desse desenvolvimento. E nós, as mulheres, somos as mais excluídas e as mais pobres entre as pobres do planeta.

Eu acho que temos de comemorar, sim, o Dia 08 de março para vencer o déficit de presença feminina no mundo do poder. Eu não queria falar dos outros, vamos falar de nós mesmos. Na Capital do Estado do Rio Grande do Sul, nós ainda estamos comemorando o fato de uma mulher, pela primeira vez, presidir a Câmara Municipal de Porto Alegre. Nem a Deputada Jussara Cony e nenhuma outra companheira dela ainda presidiu a Assembléia Legislativa – esperamos que seja breve. Nós poderemos olhar as maiores entidades empresariais gaúchas e veremos que nenhuma mulher jamais presidiu uma dessas entidades. Quanto às entidades sindicais, hoje, as mulheres ocuparam um espaço mais significativo, rompendo aquele álibi que colocava as mulheres sindicalistas na direção sindical, mas nos cargos de Secretárias ou de Diretoras de eventos.

Nós temos, sim, de seguir comemorando o Dia Internacional da Mulher, para preservar o olhar singular das mulheres sobre o mundo; essa singularidade feminina, que se expressa, por exemplo, no tipo de representação política que nós fazemos, a qual se comprova quando nós vemos que a questão da prostituição infanto-juvenil, que a violência doméstica, que temas dificílimos de serem tratados, como o estupro, só chegaram no mundo do poder político, só foram pautas e debates nos Parlamentos com o crescimento da participação feminina no Congresso Nacional, nas Assembléias Legislativas dos Estados e nas Câmaras de Vereadores.

Eu ainda queria dizer que nós comemoraremos, sim, o Dia 08 de março, para dar visibilidade ao trabalho feminino; visibilidade esta não para nós - as mulheres que estamos participando neste Plenário, porque nós tivemos o privilégio, o acesso à educação - mas da visibilidade do papel preponderante das heroínas anônimas, que, com uma tripla jornada de trabalho, constroem, dentro das suas casas, a orientação humanista dos seus filhos.

Nós continuaremos, sim, comemorando o 8 de março para preparar as mulheres para as exigências da contemporaneidade. Nós temos de defender a contemporaneidade, mas não achando que os valores majoritários deste século devam ser preservados - o individualismo, a exclusão econômica, a desigualdade, a luta permanente pela redução da auto-estima das mulheres -, e, sim, a sociedade contemporânea que reedita o Iluminismo acrescido da conquista e da consciência democrática que vivemos nos últimos anos. E essa contemporaneidade dos nossos sonhos passa pelo aprimoramento do processo civilizatório, que é a base, que é o pano de fundo, que é o que nos estimula a discutir a questão dos direitos femininos.

Por último, eu queria dizer que nós permaneceremos pautando 8 de março como o Dia das Mulheres porque nós queremos garantir relações de dignidade entre gêneros. Eu duvido que, com os dados apresentados no relatório da Anistia Internacional que levantou dados de países de todo o mundo, nós possamos dizer que o pacto de relação de gêneros em todos os países sejam pactos de respeito entre os gêneros.

Uma deputada democrata americana fez uma denúncia no plenário do Congresso dos Estados Unidos dizendo que, na última vez que juntaram os soldados americanos na Guerra do Golfo, cem mulheres foram estupradas pelos seus colegas; e 240 mulheres foram estupradas nessa última organização da Guerra do Iraque.

Imagine-se se, na relação profissional, o estupro se estabelece como conduta, o que não acontece com os vencidos em relação às mulheres nas áreas de bombardeiro e, depois, na ocupação para justificar armistícios.

Se nós levantarmos os dados da violência dentro dos lares, que deveriam ser lugares seguros para mulheres e crianças, nós temos que dizer que, apesar de ser difícil este debate, se nós, mulheres, não tivermos a ousadia, a coragem, a atitude de vanguarda de denunciá-los, não estaremos fazendo justiça a tantas mulheres que morreram na luta pela igualdade, pela justiça e por uma sociedade de paz.

Portanto, Srª Presidente, eu queria concluir parabenizando todas as mulheres Vereadoras que venceram o desafio da conspiração invisível da sociedade, apesar de estarmos no século XXI, e ousaram ocupar lugares de poder. E, quem sabe, neste ano que se inicia, a gente possa contar com um contingente maior de homens aliados à nossa luta pela igualdade, pela justiça e por um futuro onde uma sociedade realmente contemporânea seja pautada pela questão civilizatória. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Margarete Moraes): O Ver. Carlos Alberto Garcia está com a palavra e falará em nome do PSB.

 

O SR. CARLOS ALBERTO GARCIA: Srª Presidenta e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Primeiramente, queremos dizer que quando se comemora o Dia Internacional da Mulher é um dia de reflexão, e, neste ano, esta Casa, com uma magia simbólica muito importante - já foi dito aqui por outros Vereadores que me antecederam -,esta Câmara, depois de mais de 230 anos, consegue ter uma mulher como Presidenta. Uma Presidenta que é mulher, mas que não diferencia os seus atos, não diferencia as suas atuações. E é isso que se busca quando se fala em termos de igualdade de gênero.

Portanto, Verª Margarete, parabéns pela sua atuação!

Nós ingressamos nesta Casa, há um ano, com um Projeto que instituiu o Prêmio Mulher em Ação, e agora, há uns 10 dias, veio o Parecer do Conselho dos Direitos da Mulher. Esperamos que no próximo ano, e eu tenho certeza de que vai ser, seja aprovado este Projeto, que prevê que esta Casa possa conceder o Prêmio de Mulher em Ação para cinco categorias: educação, saúde, direitos humanos, política e comunidade. Quem vai escolher será o Conselho Municipal de Diretos da Mulher, que a cada ano vai pinçar cinco mulheres, cada uma delas nessas áreas já descritas, e a Câmara Municipal, por meio de sua Mesa Diretora, vai instituir esse Prêmio Mulher em Ação.

Mas eu disse no início da minha fala que hoje, e nesta semana, mais do que nunca, é um dia de reflexão. É um dia de pensar e analisar sobre os direitos pelos quais luta a mulher. O direito à saúde, o direito de lutar contra as constantes violências que a mulher sofre, seja violência psicológica, violência física, violência moral. Muitas delas ocorrem dentro do seu próprio lar, e isso não é ventilado, nem verbalizado, mas sabemos que existem em alto grau.

As mulheres têm de lutar, cada vez, por um salário digno e justo, porque ainda, numa sociedade machista, não conseguimos conceber mulheres fazendo funções análogas, mas muitas vezes ganhando até 40% menos do que o homem. É discriminação ou não é? Nós temos que atacar e discutir essas coisas de frente. Mais do nunca as mulheres buscam a questão da igualdade. E já foi dita e decantada aqui pelo outros a questão da busca de uma justiça social para si, para sua família.

Cada vez mais, neste momento, a gente sempre lembra daquelas mulheres que, em 1853, tiveram a sua fábrica incendiada. Na realidade, pelo que elas estavam lutando? Pela redução da jornada de trabalho. Vejam só que heresia, querer reduzir a jornada de trabalho! Outra heresia que elas estavam cometendo era querer creches para os seus filhos. Mas não, como prêmio, tiveram a fábrica incendiada, morreram lá dentro – dentro da fábrica - quando estavam tecendo. E é por isso que até hoje existe a questão do tecido cor lilás. E é por isso toda essa simbologia do lilás, que significa essa luta, essa heresia das mulheres de quererem simplesmente uma redução de jornada de trabalho e creche para os seus filhos. Ora, realmente isso é algo pecaminoso! Aconteceu em 1853, e ainda se discute isso em pleno século XXI, novo milênio. Não sabemos até quando, e por isso é importante que a cada ano, neste momento, possamos fazer uma reflexão. Quero também aproveitar este momento em que o Ver. Reginaldo Pujol saudou inúmeras Vereadoras e resgatar duas que não foram citadas, mas que têm um significado muito especial: uma resolveu não concorrer mais, Manira Dantur Buaes, professora, advogada, que contribuiu e muito com seu trabalho e seu talento nesta Casa. A outra, tive a oportunidade de conviver durante quatro anos, Tereza Franco, que faleceu, mas foi daquelas mulheres negras e discriminadas que deram a volta por cima depois de uma certa idade, mostrando que a educação, a cultura, a gente busca, porque, na realidade, o que a gente tem de ter é simplicidade de ações e gestos; saber o que se quer e o que se busca, e isso, Tereza Franco fazia com propriedade. Também quero aproveitar este momento e homenagear quatro mulheres vitais para a minha vida: a minha mãe, Glória, que me ensinou todos os caminhos e principalmente a respeitar as mulheres; minha esposa, Rosa Maria - está aqui conosco -, é Vice-Presidente do Conselho Estadual das Mulheres. (Palmas.) E as minhas duas filhas, Débora e Letícia. E, para finalizar, quero dizer da minha alegria em poder caminhar, no meu dia-a-dia, sempre ao lado de uma mulher. Rosa, muito obrigado e obrigado a todas as mulheres aqui presentes.

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Margarete Moraes): O Ver. Raul Carrion está com a palavra e falará em nome do PCdoB.

 

O SR. RAUL CARRION: Excelentíssima Verª Margarete Moraes, primeira Presidenta, primeira Prefeita da Cidade de Porto Alegre; Excelentíssima, combativa Deputada, camarada do meu Partido, Jussara Cony, em nome de quem saúdo toda esta Mesa tão representativa; Exmas Vereadoras Maria Celeste e Clênia Maranhão; demais Vereadores; lideranças femininas aqui presentes; mulheres do povo; autoridades; ex-Vereadora Sônia Santos, que já não se encontra; a nossa homenagem a todas vocês.

Também aproveito para relembrar a primeira mulher que assumiu o mandato de Vereadora nesta Casa, uma operária, tecelã das fábricas Renner, companheira do meu Partido, o Partido Comunista do Brasil, que trouxe para esta Casa, pela primeira vez, a voz da mulher na eleição de 1947, parece-me. Então seria importante relembrar essa lutadora do povo, operária, que assumiu pela primeira vez a tribuna desta Casa.

A minha homenagem às funcionárias desta Casa, que têm sido o esteio para o funcionamento e o trabalho de todos nós, Vereadores.

Por que é preciso existir o Dia da Mulher? O que é esse Dia da Mulher? Será meramente uma comemoração, uma homenagem, uma honraria que nós fazemos, um reconhecimento às mulheres? Eu penso que é muito mais do que isso, alguém já tratou da questão. Por que não existe dia do homem? E será que todos os dias são da mulher? Já foi feita essa pergunta aqui. Eu penso que existe Dia da Mulher, precisa existir, porque existe a desigualdade de direitos; porque existe a discriminação da mulher; porque existe a discriminação no trabalho, onde a mulher, apesar de ter uma escolaridade maior, recebe 65% do que recebe o homem; porque, à mulher, cabem os trabalhos de menos prestígio social, os menores salários; precisa existir porque a mulher sofre, mais do que o homem, a exclusão social - setenta por cento das pessoas no mundo que ganham menos do que um dólar ao dia, estando abaixo da linha da miséria, são mulheres. Será acaso? Será pela natureza? Evidentemente que não, a capacidade da mulher está cada vez mais demonstrada, e principalmente no serviço público, onde entram por concurso público, seja no Ministério Público, na Justiça, nesta Casa, onde as mulheres, penso eu, são, inclusive, a maioria. Existe o Dia da Mulher porque elas são vítimas da violência física, sexual, moral. Existe o Dia da Mulher porque, apesar de serem a maioria entre os cidadãos, elas são imensa minoria, ínfima minoria no poder, no poder político, onde são em média 11% nas Câmaras - aqui nós temos 15%, é uma representação de uma cidade progressista; na Assembléia são em torno de 10%; no Senado, 5%; na Câmara Federal, 7,5%. E são a maioria da sociedade!

Então, é evidente que, enquanto persistir esse quadro, o Dia da Mulher será necessário. Lutemos, quem sabe, para que, um dia, essa desigualdade, essa opressão, essa superexploração da mulher deixe de existir. Aí nós poderemos dizer que o Dia da Mulher terá deixado de ter essa razão. Quem sabe até persista, aí, realmente, como homenagem. Mas hoje é um dia de luta, é um dia de reflexão, é um dia para que homens e mulheres pensem sobre essa realidade, que não é nenhuma fatalidade, pois são os homens, e as mulheres também, de certa forma, que criam essa realidade e que transformam essa realidade. Por isso é importante esse Dia.

E essa luta é antiga. Eu penso - procurei estudar alguma coisa, como historiador - que a questão feminina começa na Revolução Francesa. Não que a opressão da mulher comece ali, mas parece-me que surge, pela primeira vez, a luta da mulher pela transformação, na Revolução Francesa, com Olympe de Gouges, que, em 1791, elabora a Declaração dos Direitos da Cidadã e questiona: se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve poder subir também à tribuna. Ela acabou morrendo guilhotinada. Ela afirmou o direito feminino a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo as suas capacidades.

Essa luta seguiu com as mulheres combatentes da Comuna de Paris, em 1871, quando deram exemplo de heroísmo, de bravura, de luta, de sacrifício; na luta das tecelãs da Empresa Cotton, em Nova Iorque, o que já foi referido, quando elas foram mortas porque ousaram fazer uma greve; na luta pelo sufrágio feminino; na luta pelo direito das trabalhadoras; na luta pela liberdade, aqui no nosso Brasil; na luta pela Anistia; na luta de Elenira Rezende, Jussara, na Guerrilha do Araguaia; da Dina e de outras tantas que foram mortas, degoladas, como agora a imprensa vai mostrando, a matéria da revista Época e outros jornais.

Então, essa luta é antiga. É uma luta que tem obtido vitórias, conquistas importantes, mas muito ainda existe por caminhar. É uma luta milenar, é uma opressão que nasce quando surge a exploração do homem, a propriedade privada, o Estado, onde começa a opressão da mulher pelo homem. Não é uma questão individual - eu, homem, o José, o João -, é uma questão social, é uma questão cultural.

Vou concluir. Eu gostaria até de ler uma poesia, mas o tempo não nos permite; temos outra solenidade. Quero deixar o nosso grande abraço e dizer que, nesta luta, vocês contam também com os homens que têm uma visão transformadora deste mundo. Nós vemos que a luta da mulher tem a sua especificidade, mas ela tem de se ligar à luta maior por uma transformação social, por uma nova sociedade, sem opressores, sem oprimidos, sem explorados, sem exploradores, no entendimento deste Vereador, uma sociedade socialista. Então, um grande abraço; lutemos pelas transformações de que este mundo necessita, mas lutemos também, as mulheres e os homens, por uma nova relação onde a nossa diferença de homens e mulheres seja bem-vinda, não seja a raiz de desigualdades. Diferença é uma coisa; desigualdade é outra. Um grande abraço. (Palmas)

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Margarete Moraes): O Ver. Ervino Besson está com a palavra e falará em nome do PDT.

 

O SR. ERVINO BESSON: Minha cara Presidente desta Casa, Verª Margarete Moraes. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Neste dia em que nós estamos aqui prestando esta homenagem às mulheres – 230 anos, minha cara Presidente – posso dizer que esta foi mais uma conquista, mais uma luta das mulheres. Sei que a TVCâmara está aqui; as pessoas que nos assistem pela TVCâmara têm a oportunidade de ver as personagens que fazem parte da Mesa. Nós temos aqui representantes da Aeronáutica, Polícia Civil, Brigada Militar; dos Parlamentos, por exemplo, temos aqui a nossa querida Deputada Jussara Cony; desta Casa, nós temos a Presidente Margarete Moraes, e representantes também da Procuradoria-Geral do Estado.

Foi uma conquista muito árdua das mulheres; muito árdua. E as mulheres conseguiram essa conquista.

Eu sou uma pessoa que acredito muito numa mudança deste País. Acredito mesmo. Por que digo isso para vocês? Por causa das mulheres. Dentro da sociedade em que vivemos hoje, nós, homens, tivemos a nossa oportunidade, meus caros colegas Vereadores e Vereadoras, e talvez nós tenhamos deixado alguma coisa a desejar neste mundo em que vivemos hoje; e as mulheres, com uma grande luta, hoje conseguiram conquistar esse espaço, apesar do machismo do homem. Eu quero destacar esse fato, esse feito, essa luta das mulheres. Eu, várias vezes, ouvi, aqui neste plenário, das nossas queridas colegas Vereadoras Maria Celeste, Sofia, Maristela Maffei e da própria Presidente... Inclusive um dia desses a Presidente, antes de assumir a presidência, pois já sabíamos que a futura Presidente desta Casa seria uma mulher, ela disse: “Mas será que eu vou conseguir?” Vai conseguir, e a prova está aí, desempenhando um papel que orgulha esta Casa, que orgulha a nós, Vereadores. E digo mais a vocês: nós, homens, temos a nossa responsabilidade, os nossos compromissos, e as mulheres também têm os seus compromissos. Agora, vamos mais adiante, um pouco. Nós cumprimos o nosso dever, combinamos ir ao futebol, ou a um barzinho ou a um churrasquinho, enfim, com os amigos. E a mulher? A casa, os filhos e o marido. Nós temos de ter a grandeza de reconhecer certas questões. Portanto, eu falo aqui hoje em nome do meu Partido, do Ver. Isaac, do Ver. Nereu, do Ver. João Bosco Vaz e do Ver. Humberto Goulart, e quero desejar a todas vocês, mulheres, que Deus ilumine o caminho de cada uma de vocês, que vocês cada vez mais continuem com essa fibra, com essa força. E, como eu já disse, repito mais uma vez, acredito muito numa mudança neste País; sem dúvida nenhuma, vocês, mulheres, serão o esteio.

Para encerrar, à minha falecida mãe, que partiu tão jovem, aos 36 anos de idade, fica também o meu abraço, o meu beijo. Um abraço fraterno a vocês. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

(O Ver. Ervino Besson assume a presidência dos trabalhos.)

 

O SR. PRESIDENTE (Ervino Besson): A Verª Margarete Moraes está com a palavra.

 

A SRA. MARGARETE MORAES: Saudando o Presidente Ervino Besson, eu quero cumprimentar os demais membros da Mesa, todas as autoridades já nominadas e todas as pessoas que comparecem e prestigiam esta Sessão Solene. Depois de tudo que foi dito, pensado, ouvido, refletido, eu queria fazer uma referência a todos os homens e a todas as mulheres do mundo que lutaram, que se sacrificaram, que deram a vida na busca de um ideal humanista, democrático, de um ideal, inclusive.

Eu também preciso referir-me às anônimas mulheres gregas, no período clássico, quando elas eram excluídas. Excluídas do mundo do conhecimento e do mundo das artes, excluídas pelos maiores filósofos da humanidade porque eram tidas como seres inferiores.

E, assim como o Ver. Raul Carrion, eu anotei uma referência àquela mulher que se entusiasmou com a boa energia, com os ideais libertários da Revolução Francesa e que ousou esboçar uma Declaração dos Direitos Humanos da Mulher, e, por isso, foi decapitada. Ou às tecelãs de Nova Iorque, como também se referiu a Verª Maria Celeste, e tantos outros que lutaram por condições dignas de trabalho, queriam a diminuição da carga horária para 12 horas e foram assassinadas brutalmente.

E se nós pensarmos em mulheres militantes, em mulheres políticas, eu quero fazer uma referência a Rosa Luxemburgo, uma figura emblemática que enfrentava, que ousava polemizar; a Deputada Jussara Cony, com Lenin, Kautsky, Trotski; a Verª Julieta Batistolli, muito bem colocada pelo Ver. Raul Carrion, que, no entanto, se esqueceu de nominá-la.

Se nós pensarmos na arte, naquelas mulheres que estão à frente do seu tempo, que trabalham com a sensibilidade, que trabalham com o futuro, eu quero fazer uma referência a Simone De Beauvoir e a Isadora Duncan. E se só nós pensarmos nos dias de hoje, é preciso lembrar das mulheres sem terra, dessas mulheres que lutam em condições muito difíceis pelo acesso à terra, e, mais do que isso, pelo direito à terra; elas lutam por um futuro, um futuro de igualdade de justiça. E também das mães da Praça de Maio, em Buenos Aires, cujos filhos foram levados para nunca mais. Enfim, é preciso uma referência e um crédito a todos e todas que sonham e que lutam, no dia-a-dia, por um mundo mais humano e mais solidário, seja na rotina, nas relações públicas e também nas relações privadas, o direito à igualdade e o respeito à diferença.

A esses homens e a essas mulheres e tantos mais a que nós não nos referimos, hoje, nesta tarde, eu quero dedicar este momento, porque nós estamos trabalhando em cima de uma data emblemática, o 8 de março, que exige comemoração, que exige festa por toda a conquista histórica, por todo esse acúmulo, mas que exige, também, a reafirmação da mobilização e da luta.

Nós, as mulheres e os homens do Brasil, sabemos que o Brasil é líder mundial de assassinatos homofóbicos; isso nos envergonha! Nós sabemos que existem leis, leis que garantem, que afirmam, que ampliam os direitos da mulher e a sua condição, e essas leis sempre devem ser saudadas, porque elas cuidam da situação e da condição da mulher no mercado de trabalho, elas confirmam o atendimento na rede pública para as mulheres, elas criminalizam o assédio sexual, combatem a baixa auto-estima generalizada, mas, infelizmente, nós sabemos que, na maioria dos casos, a lei ainda é um mito. Essa lei não se desdobra na vida como ela.

Eu quero, portanto, neste momento, do ponto de vista da esperança e do reconhecimento do nosso avanço, citar personalidades e entidades que contribuem para a transformação dessa realidade, como é o caso da Juíza, a Drª Maria Berenice Dias, que diz que as mulheres devem descer do trono, e também da Drª Ângela Rotunno, aqui presente. Muito mais do que o direito formal, elas atuam na busca da justiça entre as pessoas. Por favor, querida Ângela, receba também a minha homenagem.

Eu preciso me referir a organizações não-governamentais. Há muitas, mas eu quero citar a Themis, a Viva Maria e todas aquelas organizações que propugnam a livre orientação sexual. Assim como a Secretaria dos Direitos Humanos e de Segurança Urbana, entre outras tantas entidades, a Coordenadoria da Mulher, no Governo do Estado, militam cotidianamente pela eqüidade de gênero e estabelecem uma rede de apoio e de proteção.

Nós sabemos que a pobreza no Brasil tem a cara da mulher, e, como já foi referido aqui pela Vereadora Maria Celeste, mas nunca é demais repetir, a cada quinze segundos uma mulher é vítima de violência. E isso não é pouco, não é? Isso é um dado dramático da nossa realidade. Mas, apesar de que na vida nem tudo são flores, na vida como ela é de fato, e apesar de que nós, mulheres e homens, temos noção de que não há data marcada para a tolerância, nem para demonstrações de afeto ou de respeito, nós concordamos que é preciso enfatizar o Dia da Mulher, com esse momento de reflexão, de conscientização, mas também momentos de emoção, de alegria e de comemoração.

Eu tenho muito orgulho em ser Vereadora desta Casa, a partir de 03 de março de 2003, porque eu sou acompanhada por mulheres do porte de Maria Celeste, Maristela Maffei, Clênia Maranhão, das Vereadoras Helena Bonumá, Sofia Cavedon e de todos os Vereadores que compartilham desta meta, deste ideal libertário que é a emancipação das mulheres. Enfim, muita coisa foi dito, mas eu creio que nunca é demais relembrar: todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Margarete Moraes): Ao finalizarmos esta Sessão Solene, agradecemos a presença de todos, e convidamos todos os presentes a assistir ao show “Vinte Anos sem Elis” com a participação do músico Nio e das cantoras Lúcia Helena, Loma e Sio. Elas interpretarão as seguintes músicas: O Bêbado e a Equilibrista, Como nossos Pais, O Trem Azul, Madalena e Maria Maria.

Agradecemos a presença de todos e damos por encerrada esta Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h41min.)

 

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